Abstract. Uma oficina de ONG na temática de “gênero” e a atividade de criar pombos dão as deixas para que este artigo exponha as dificuldades envolvidas na caracterização das experiências de rapazes (shabâb) do campo de refugiados palestinos de Chatila, no Líbano, como “performance de gênero”. O conceito de “gênero”, com efeito, não funciona em todos os contextos e momentos. Se serve para iluminar as biografias dos pais dos atuais shabâb de Chatila – os fidâ(iyyîn (combatentes), cuja passagem à vida adulta foi acentuadamente informada pela luta para retornar à terra natal – não dá conta de apreender a experiência daqueles que dispõem de acesso muito limitado a elementos de poder, caso dos shabâb. Em lugar de tomá-los como “emasculados”, por não poderem “performatizar” adequadamente um “gênero” devido aos constrangimentos político-econômicos a que estão submetidos, o que antes faço é problematizar o próprio conceito de “gênero”. Assim, o estudo sugere que tal conceito, na medida em que se move num universo semântico definido pela busca de poder político, levanta questionamentos quando aplicado a ambientes anti-Estado, como é o caso de Chatila nos dias correntes – uma problemática não de todo estranha à linha clastriana de pensamento.