Com base nas biografias de trabalho de quatro famílias do campo de refugiados palestinos de Chatila ou do entorno imediato – as quais, à primeira vista, parecem contar uma mesma história: de dificuldades econômicas, educação interrompida, moradias inadequadas e tentativas de imigração em busca de um futuro melhor -, realço, ao longo deste capítulo, os vínculos entre “estatística” e consolidação de máquinas estatais, da mesma forma como problematizo a adequação de uma perspectiva meramente apoiada em números ou puramente economicista para a questão dos refugiados palestinos no Líbano. Há, na verdade, algo fundamentalmente diferente entre as quatro famílias em questão. Sua situação excepcional, em termos de indicadores sócio-econômicos, não constitui, paradoxalmente, exceção. Somente aparece como tal se vista da perspectiva de um Estado, ponto-de-vista completamente inadequado quando se trata de Chatila. Desta forma, interrogo a extensão em que os estudos de Hanafi e Hanafi e Taylor, apresentando os campos de palestinos como “estados de exceção”, não se baseiam, na verdade, em leitura insuficiente de desenvolvimentos recentes de filosofia política. Além disso, a obra de Hanafi talvez tenha contribuído para exotização complementar, e não propriamente bem-vinda, dos refugiados palestinos, com conseqüências políticas potencialmente nefastas, provavelmente não-antecipadas pelo autor.